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quinta-feira, 22 de março de 2012

PAULO ISAAC SERÁ COROADO PELOS ÍNDIOS BORORO NESTE FINAL DE SEMANA

  Os dias 23 a 25 de março de 2012 serão de celebrações na Aldeia Indígena Bóe Bororo de Tadarimana, em Rondonópolis, Mato Grosso.
  O antropólogo Paulo Augusto Mário Isaac, que em abril de 2011 foi "batizado" pelos índios Bororo e recebeu os  nomes de Jure Edúgo (pintas do sucuri) e Kudóro Kaworo (arara azul), receberá de seu clã Kie o pariko (cocar) com o qual poderá participar de todos as cerimônias dessa etnia. 
    No mesmo final de semana os índios realizarão um ritual denominado Barége e-kedódu - o banquete das feras. 
O PARIKO BORORO
Pariko
É o mais vistoso e característico enfeite de cabeça (cocares, diademas) produzido pelos índios Bororo. É um diadema de penas de araras e de outras aves cujo colorido representa complicados significados referentes aos clãs dos homens que o possuem.
Seu uso cerimonial é associado a outros adornos de cabeça, braços e cintura que formam um belíssimo conjunto acompanhado pela pintura homônima, ou seja, de equivalência significante correspondente ao clã do seu dono. Desde as plumas à taquara nas quais elas estão presas, o desenho e a estética são carregados de significados relacionados ao rico simbolismo Bóe-Bororo.
Conforme relatam Albisetti e Venturelli (Enciclopédia Bororo Vol. I, p. 409) os parikos têm os atilhos amarrados no occipício e são colocados na parte anterior da cabeça, inclinados para frente com um ângulo de mais ou menos 45°.
Não são insígnias de chefes como se poderia supor, mas podem ser empregados por todos os homens, e, em circunstâncias limitadas e muito especiais também por mulheres.
Todos os clãs possuem determinado número de diademas os quais lhes são privativos.
A disposição, qualidade e cor das penas constituem o distintivo dos clãs e sub-clãs dos quais os diademas são privativos.
Geralmente o pariko forma um conjunto de plumas em três dimensões justapostas, tendo uma base com penas menores, outra em seguida e a terceira com plumas grandes (da cauda das araras). 
O pariko é usado nos eventos cerimoniais de toda ordem e servem para identificar seus portadores quanto ao clã que eles pertencem e os seus significados na cosmologia Bororo.
Existem vários exemplares de diademas, cada qual com os enfeites de seu clã.
Uma vez que um homem recebe o nome Bororo, cabe ao seu padrinho (pertencente ao mesmo clã) confeccionar o seu pariko.

Antropólogo Juredúgo Kudóro kawóro Paulo Isaac será coroado pelos Bororo
                A cerimônia será realizada neste final de semana, dias 24 e 25 de março de 2012, na Aldeia Indígena Tadarimana. Pessoas Bororo de todas as Áreas Indígenas do Mato Grosso estão chegando a Rondonópolis para participar deste evento e de um ritual denominado Barége e-kedódu, que significa banquete das feras. Trata-se do mori (recompensa, retribuição, reparação à perda por morte de entes queridos), também conhecido como ritual do couro de onça.

Histórico sobre a coroação
Nadir Ika
                Nos dias 18 e 19 de abril de 2011, o antropólogo da UFMT, Prof. Dr. Paulo Augusto Mário Isaac foi introduzido na Sociedade Indígena Bóe-Bororo.
                Ele recebeu de sua muga Nadir Ika, mãe cerimonial e matriarca de seu clã Kie, o nome de Jure Edúgo, que significa pintas do sucuri. De seu iedaga (padrinho, aquele que lhe impõe o nome) Raimundo Itogoga recebeu o nome de Kudóro kawóro, que significa Arara azul, também conhecida como arara preta porque ela é totalmente azul e suas penas têm um fundo preto. É importante enfatizar que as pessoas Bororo podem ter um, dois ou mais nomes.
Raimundo Itogoga - chefe cultural Bóe Bororo

                Onze meses após receber o nome Bororo e ser inserido no clã Kiedo Ecerae, Jure Edúgo Kudóro Kawóro vai ser coroado pelos índios no domingo, dia 25 de março de 2012.
                O pariko que Paulo Isaac receberá foi confeccionado em três camadas de plumas e é denominado paríko coréu porque sua base é preta, feita com penas de mutum. A segunda faixa é amarela com três listras pretas. A parte superior é constituída de plumas azuis com um detalhe vermelho. As zonas alternadas de plumas pretas e amarelas e pretas e vermelhas são privativas de um sub clã Kíe.

O banquete das feras
O Barége e-kedódu é um ritual que compõe o funeral Bororo. Quando um Bororo morre é escolhido um seu representante denominado aróe maíwu (alma nova) ou iádu (companheiro), cuja obrigação principal é vingar a morte do representado, abatendo uma onça cujo couro será dado a um parente do defunto. Esta onça (adugo) será denominada o móri (vingança ou retribuição). Deve-se observar que os índios acreditam que a morte seja causada por um bope (algum espírito malfazejo). Os bopes utilizam-se dos animais carnívoros para praticarem suas maldades. Matando um felídeo, os Bororo acreditam que eliminam um bope, efetuando-se, assim, a vingança. Precede ao ritual do barége e-kedódu (banquete das feras) uma manifestação coletiva e social denominada Aróe E-méru, que significa caçada em honra às almas. Os caçadores iniciarão os preparativos na sexta feira (23) ao anoitecer, com uma refeição em comum na casa central da Aldeia, denominada bái mána gejéwu ou simplesmente baito. Terminado o banquete, os homens entoam cantos que duram a noite toda. Ao amanhecer, eles saem para a caçada e abatem os animais em quantidade para a realização do banquete das feras, que ocorrerá no domingo, dia 25 e deverá alimentar todos os Bororo da tribo presentes ao evento.